sábado, 14 de agosto de 2004

Jogos da Paz

Ontem ao ver a cerimónia de abertura dos jogos Olimpicos Atenas 2004, fiquei impressionado pela grandeza do espectáculo, pela beleza do mesmo que foi na minha opinião um espectáculo imponente e digno do grande acontecimento que são os JO. Uma cerimónia magnifíca do princípio ao fim, preparada ao pormenor, quer do ponto de vista do entretenimento bem como da segurança, aspecto tão compreensivamente badalado nos últimos tempos. Mas, houve algo que me marcou mais que as danças, o fogo de artifício, o espectáculo de lazer ou o acender da chama olímpica. Desde sempre os jogos foram incapazes de se dissociar da política, este ano não foi, obviamente, excepção. Os acontecimentos mais recentes são por demais graves para serem ignorados pelas pessoas do mundo e os espectadores presentes no Estádio Olímpico manifestaram-se quando algumas comitivas entravam dizendo de sua justiça por aplausos ou assobios o que pensam das políticas desses mesmos países ou da sua capacidade de resistir. Poderão dizer que os atletas não têm culpa das políticas do seu governo, sem dúvida que não a têm, mas não são eles que estão a ser assobiados e só não compreende isso quem não quer ver o mais evidente. Argumentarão talvez que nao foi a totalidade dos espectadores que se manifestou, mas não poderão ignorar o número de pessoas que o fez, foi esmagador. É na minha opinião gratificante ver a pequena comitiva da Palestina ser aplaudida com fervor, sei que em JO anteriores problemas houve com rebeldes palestinos que assassinaram atletas Israelitas inocentes para promover a sua causa e, sou naturalmente ferozmente contra essa situação, mas, nesta guerra em que existem culpados dos dois lado, sinto como muitos uma natural simpatia pela causa Palestina e, quero apenas realçar este manifesto acto de solidariedade que muitos, no estádio mas também pelo mundo fora, deram ao povo da Palestina. Acho que é de realçar a atitude de um atleta Iraniano, Judoca, principal esperança do seu país em vencer uma medalha que, ao confrontar-se com a probabilidade de defrontar um atleta Israelita na sua categoria, recusou-se a participar nos Jogos em solidariedade com a causa Palestina. Também a comitiva do Afeganistão foi aplaudida... Foi mais um povo vitimado pela frieza dos políticos, mais um país devastado por uma guerra que não é sua e teve este pequeno, e apenas simbólico gesto de reconhecimento pela sua dor e perda. Foi sem surpresa que vi a comitiva dos E.U.A. ser vaiada, alguns dos melhores atletas do Mundo, alguns dos principais candidatos ao ouro nas suas categorias, mas (orgulhosamente?) por envergarem as cores de uma bandeira que tantos exaltam e muitos mais rejeitam são ferozmente assobiados ao entrarem no estádio. Nem sequer vou comentar as atitudes do governo Americano em relação à sua política externa, não tenho tempo, não tenho paciência e não ia dizer nada de novo, nada que todos não saibam já. Não tenho ilusões, nada vai mudar a curto prazo devido aos jogos da paz, provavelmente nem a longo prazo isso irá acontecer, mas, enquanto existirem pessoas dispostas a dar a cara pelas suas causas mas também pelas causas de povos que não se podem manifestar, enquanto existir vontade de mudar, existirá uma pequena esperança que um dia este será um mundo um pouco melhor. Para terminar só gostaria de comentar uma notícia que acabei de ler, a família de Rui Mendes, adepto do Sporting morto no Jamor em 1996 vai finalmente ser indemnizada pela FPF. Revolta-me ver que a federação nunca pôs em causa a indemnização!!! Mas demorou oito anos a pagar o que em dois meses paga a Felipão!!! Tenham respeito!

1 comentário:

Badasso disse...

Grande Píri, estava a ver que já tinhas desistido. Ainda bem que não o fizeste porque este post está muito bom. Excelente regresso.
Abraço.