Caro amigo, sei que esta servirá para destruir um sonho, uma crença, uma convicção. Ainda assim, a amizade que nos prende não me permite continuar a pactuar com este equívoco que lhe irá trazer ao longo da vida muitos dissabores. Assim, pego no leme deste navio que será a sua decepção com coragem, ainda que com algum temor, já que não queria ser o causador de tamanha tormenta. Empreendo esta demanda com certa dor, mas sempre com a certeza de estar a dar o passo correcto.
O seu comportamento ao longo destes já mais de 9 anos de conhecimento mútuo leva-me a uma conclusão, todas as suas alusões a outros tempos, a filmes antigos, a acontecimentos históricos da antiguidade, a séries televisivas dos primórdios da caixa mágica, são fruto de um terrível e lamentável engano da sua parte, o meu caro amigo pensa que fez parte da Geração de 70, tertuliando com Eça e Ortigão pelas frias noites desse século já tão distante, debatendo o futuro da nossa sociedade, o meu caríssimo crê ter jantado vezes sem conta no Martinho da Arcada com Pessoa, assumindo sem temor o papel de Ricardo Reis umas vezes, noutras Bernardo Soares, apenas para não deixar o génio a falar sozinho, sei que pensa ter assistido ao vivo à fatídica final do Mundial de 50, consolando jovens brasileiras decepcionadas no seu ombro, foi com terror que o ouvi falar na primeira pessoa sobre o 25 de Abril...
Passei anos a formular esta tese, mas basta, é chegada a hora de acordá-lo para a dura realidade, o meu amigo nasceu apenas em 1979, tendo nada mais nada menos que 2 anos a mais que eu, assim sendo, o seu tempo, por muito que lhe custe, é o mesmo que o meu...
Assim me despeço com o humilde desejo de ver esta carta aberta, mudar o até aqui desolador rumo da sua existência.
Atenciosamente, Pir
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