domingo, 9 de setembro de 2007

História ou estória

Surgiu hoje uma dúvida que é comum aparecer. Existirá história e estória ou não? Várias opiniões foram apresentadas, ninguém estava certo do que afirmava, por esse motivo fui forçado a procurar a resposta quando cheguei a casa. O problema é que não encontrei.
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Primeiro procurei num dicionário que tenho cá em casa, com alguns anos e a palavra estória não aparece. Esse poderia ser um argumento a favor dos que defendiam a sua inexistência, mas um dos seus pontos indicava para um recente aparecimento desta palavra, importada do português falado no Brasil que por sua vez tinha feito uma adaptação das palavras Story e History.
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Não satisfeito continuei a procurar na net e encontrei as seguintes explicações que aqui transcrevo para não apresentar os argumentos como meus:
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"A palavra estória surgiu para distinguir a ficção de factos reais. Assim, vimos aparecer a estória da Carochinha. Estória era uma forma antiga de escrever a palavra história e agora parece ter sido recuperada. A razão do seu reaparecimento na nossa linguagem escrita ainda não reúne o consenso dos estudiosos destas questões da língua. Uns pensam tratar-se de uma influência do português do Brasil, outros uma tentativa de copiar a distinção inglesa story/history. Independentemente do modo como apareceu, importa dizer que não aparece na maioria dos dicionários de língua portuguesa. Quanto a mim, parece-me que se trata de uma moda, pois não vejo a necessidade de usar uma outra palavra já que sempre distinguimos a história (factos ficcionais) da História (factos históricos). E até me dizerem o contrário, vou continuar a falar da história da Carochinha." tirado de http://embomportugues.blogs.sapo.pt/
No dicionário on-line da Texto Editores a palavra estória não consta.
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"Os vocábulos “estória” e “história” Não existe diferença significativa entre os vocábulos “estória” e “história”, que partilham a mesma etimologia (do grego ‘historía’). Contudo, “estória” é a grafia antiga de “história” que, entretanto, caiu em desuso no português falado em Portugal. Por conseguinte, este vocábulo não aparece registado nos mais recentes dicionários de língua portuguesa editados em português de Portugal. Porém, ainda o podemos encontrar no Michaelis. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, editado em São Paulo (em 2002), com um significado diferente de “história”. Estória (segundo Michaelis): 1) Narrativa de lendas, contos tradicionais de ficção. *estória em quadradinhos = série de desenhos, em uma série de quadros, que representam uma estória, com legendas ou sem elas. **estória da carochinha = conto da carochinha *** estória do arco da velha = coisas inverosímeis, inacreditáveis. **** estória para boi dormir = conversa enfadonha, com intuito de enganar. ***** deixar-se de estórias = evitar rodeios, indo logo ao ponto principal. No que se refere aos dicionários mais recentes editados em Portugal, todas as acepções supra-referidas são parte integrante da entrada “história”. História 1) Narração ordenada, escrita dos acontecimentos e actividades humanas ocorridas no passado. 2) Ramo da ciência que se ocupa de registar cronologicamente, apreciar e explicar os factos do passado da humanidade em geral, e das diversas nações, países e localidades em particular. 3) O futuro, considerado como juiz das acções humanas (ex: A história o julgará.) 4) Biografia de uma personagem célebre. 5) Exposição de factos, sucessos e particularidades relativas a determinado objecto digno de atenção pública. 6) Narração de uma aventura particular" esta é a explicação apresentada em http://corrector.blogs.sapo.pt
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Para terminar mostro esta explicação que aparece em http://www.sualingua.com.br/08/08_estoria.htm O texto aqui nao está completo mas podem clicar no link e ver todo: "...Foi João Ribeiro, forte conhecedor de nosso idioma, quem propôs a adoção do termo estória, em 1919, para designar, no campo do Folclore, a narrativa popular, o conto tradicional, objeto de estudo dos especialistas daquela área. E não se tratava de inventar, mas sim de reabilitar (hoje usariam o horrendo resgatar...) uma forma arcaica, comum nos manuscritos medievais de Portugal. Era uma ingênua proposta, paroquial, nascida da inveja compreensível que causa a distinção story - history do Inglês; sem ela, alega o próprio Luís da Câmara Cascudo - para mim, um dos escritores que mais contribuíram para nossa língua -, não se pode entender frases como "Stories are not History", ou títulos como "The History of a Folk Story". Que o mestre Cascudo me perdoe: a intenção era boa, mas sem nenhum fundamento lingüístico. .. ;
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...Infelizmente, como nos piores pesadelos dos ecologistas, estória rompeu as cercas de segurança, saiu do pequeno rincão do Folclore e invadiu nossas vidas. O responsável por isso foi João Guimarães Rosa (pudera não!). Como escreve meu mestre Celso Pedro Luft, com uma ponta de inesperada ironia, Rosa decidiu "glorificar, imortalizar a ausência do agá: Primeiras Estórias. Corriam os anos de 1962. Primeiras estórias ... todos os fãs do mineiro imortal ficaram absolutamente alucinados. E foi estória para cá, estória para lá, estória para todos os lados. Uma epidemia. Perdão, uma glória". Depois, em 1967 veio Tutaméia, com o subtítulo "Terceiras Estórias", e o póstumo Estas Estórias, publicado em 1969. Muito tem sido escrito sobre a inovação da linguagem rosiana; a sintaxe de seu narrador é, a meu ver, a criação literária do século. No entanto, sou obrigado a observar que, em termos não-literários, essa inovação é zero. Nenhuma das palavras montadas, deformadas ou inventadas por ele jamais será usada, a não ser por imitadores (que já andam escasseando...). É uma linguagem só dele; funciona admiravelmente no universo de sua obra, mas é seu instrumento pessoal, e nunca será nosso. Ouso dizer que a única influência rosiana no Português foi a divulgação desse equívoco que é estória. Tenho certeza de que Guimarães Rosa, místico de quatro costados, entenderia: deve ser vingança dos deuses da Língua. "
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Espero que as explicações que copiei para aqui ajudem a esclarecer, eu fiquei pouco esclarecido mas vou deixar de utilizar a estória e passar a escrever apenas histórias...

1 comentário:

Anónimo disse...

Para mim isto são estórias mal contadas...Eu não tenho dúvidas que a palavra existe e é antiga.
Josh.