sábado, 1 de dezembro de 2007

O Inferno vive...

A data, um dia qualquer perdido no tempo, talvez estivesse nublado, talvez fizesse frio pois eu tremia sem parar, estádio da luz, não cabe mais uma pessoa, mais de 120.000 pessoas nas bancadas, estou de pé, olho para um lado e lá em cima está o meu irmão, olho para o outro lado e bem alto está o meu pai, em frente, com o relvado a separar-nos está o banco de suplentes do Benfica, as equipas aquecem, de cada vez que os jogadores do Porto se aproximam da linha lateral os Diabos quase os engolem, as laranjas voam na direcção do relvado.
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Toca Benfica Vencer Vencer, o ruído é tanto que os milhares de adeptos do Porto atrás da baliza podem até estar a cantar, mas o seu som não chega até ao sítio onde me encontro, continuo a tremer enquanto vejos os meus ídolos descer o túnel de acesso aos balneários, o cheiro do clássico intenso, a relva meio húmida. O coração responde, começa a tocar Ser Benfiquista, imagino os jogadores nervosos ouvirem o capitão dizer "15 minutos à Benfica", imitado pelos restantes, canto baixinho ao ver os 11 de vermelho correr escadas acima e a explosão de alegria quando pisam o palco, os fumos das claques dão cor, alguns tapam a cara com o cachecol, eu aceito com prazer o cheiro dos químicos que a fumarada deita. Que orgulho quando vejo a equipa perfilada na linha lateral onde me encontro, agradecer o apoio dos sócios com uma respeitosa vénia.
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O jogo corre, os nervos são muitos, estou sentado no banco de pedra do gigante de betão, bem apertado, quase que perdemos o lugar se nos levantarmos, tiro os olhos do campo para admirar as bancadas cheias, para ver o horizonte e imaginar como tem de ser alto o único edifício que se vê de dentro do estádio lá ao lado, olho novamente, o batimento forte do coração ainda não é nada comparado com o que está para vir, mas eu não sei isso, uma jogada, um momento de inspiração, uma conjugação de factores e a bola bate com vigor nas redes do guardião azul que fica no chão desconsolado, o grito a uma só voz que se vai prolongar por longos minutos começa, alguns soltam lágrimas, muitos se abraçam, salto de alegria, beijo o meu pai, abraço o meu irmão, o coração parece preparar-se para saltar do peito para fora, grito, deito tudo para fora, deixo de ver, sento-me, talvez o único dos Benfiquistas sentado naquele momento, fecho os olhos a agradecer aquele golo, o ruído está lá, abro os olhos, levanto-me, ao meu lado o meu pai, à minha esquerda o meu irmão, toca Ser Benfiquista, o coração começa a saltar, os arrepios acentuam-se, o estádio canta o Hino, aplaudo a equipa que no centro do relvado se curva perante perto de 65.000 pessoas, sinto que o inferno da Luz vive e preparo-me para um clássico daqueles que me fazem amar o futebol...

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