Por vezes somos confrontados na vida com escolhas impossíveis de tomar, ou pelo menos muito complicadas... Mais complicado ainda se torna quando temos uma escolha, uma opção, que não é verdadeiramente nossa para a tomar em consciência.
O que fazer quando temos uma pessoa de família com uma idade extremamente avançada que é diagnosticada com um grave problema de saúde, e nos é comunicado que há necessidade de operar, sabendo de antemão que o factor idade aliado aos problemas de coração tornam esta uma doente de alto risco? Difícil não? Optar por ter fé, no que quer que se possa ter, e acreditar que a operação é um mal menor e o risco vale a pena, ou jogar pelo seguro, mas apenas um virtual seguro, já que a não operar, a pessoa vai certamente mais cedo ou mais tarde sofrer as consequências de tal opção?...
Todas estas dúvidas perdem um pouco de importância quando sabemos que a última e decisiva palavra cabe à pessoa em questão, o maior problema, ou melhor, a maior questão moral levanta-se quando os médicos dão a sua opinião, e nos pedem para, no caso de estarmos de acordo com a intervenção, influenciarmos a doente explicando-lhe os benefícios desse procedimente, tentando no fundo nós influenciar a própria decisão. Não estou a criticar o que nos foi pedido, pelo contrário, apenas tenho a dizer bem de todo o atendimento que a equipa médica está a dar, estou somente a tentar explicar um dilema, custa sofrer por antecipação, custa mais não o fazer... E o sentimento de culpa, de responsabilização por uma ou outra escolha, torna tudo tão difícil, tão pesado.
O mais bonito, talvez a única beleza que consigo retirar no meio de tudo o que tem acontecido a uma assustadora velocidade, é que a calma vem de onde menos eu podia esperar, é a pessoa que está nesta difícil situação que nos acalma com a sua boa disposição, com a voz da sua experiência, sem esconder o natural receio que uma intervenção destas inevitavelmente causa, mas com a fé possível, com a confiança nas pessoas que a estão a acompanhar, nas opiniões que lhe dão... A beleza vem de um olhar terno, de um sorriso cativante de palavras tão quentes...
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