domingo, 2 de março de 2008

Grande Maestro

Ao ler a entrevista que Rui Costa deu à revista Mística, muitas recordações passaram pela minha cabeça, muitas emoções e um grande arrepio. Creio que muitas pessoas não estão a dar o devido valor ao momento que se avizinha, será a despedida de um dos maiores jogadores portugueses de sempre e, quem sabe, o mais virtuoso de todos. Não será por certo o maior de sempre, mas o nº 10 por excelência, dos que me lembro de ver jogar, apenas Zidane foi melhor, durante muito tempo afirmei que vi 3 verdadeiros 10 a jogar, Zidane, Rui Costa e Zahovic (no Porto), mais recentemente Riquelme ou Deco podem fazer parte da galeria, tendo em conta o que eu considero num jogador que faz essa posição.
Na época passada Rui regressou para alegria dos Benfiquistas, foi com mágoa e raiva que vi muitas pessoas gozar e tirar prazer da lesão que ele teve no início do campeonato, estava velho disseram, nem sequer pensaram que essa lesão poderia ser provocada não pela idade, mas por um deficiente departamento médico e por uma pésssima avaliação. Mas mesmo que fosse da idade, que doentio prazer se pode tirar de uma infelicidade de alguém, independentemente das cores que defende, principalmente quando se fala de alguém que é um símbolo do Benfica, mas também da nossa selecção... Seria para mim impensável ter essa atitude com Figo, Couto ou outros que tenho orgulho de ter visto jogar, estava lá quando um Estádio da Luz cheio gritou pelo Capitão de Portugal Couto, quando pessoas de vários clubes estavam unidas no tributo a um Enorme jogador. Não merece Rui o respeito de todos os portugueses?
Adiante, essa entrevista começa com o momento em que a maioria das pessoas, onde me incluo, conheceram o Maestro, quando era apenas um miúdo de penteado duvidoso, magricela, com uma maneira estranhamente deliciosa de tratar a bola, falo do Mundial de Lisboa em 1991. Outros deram mais nas vistas como Peixe ou Gil, mas o Rui teve o momento que ficou gravado na memória de todos, o pontapé decisivo para o fundo das redes, a corrida que outras vezes repetiu mas nunca com a mesma força junto às grades. Pode ter vivido muito pelo Benfica, mas nunca o vi tão feliz como a correr junto aos adeptos quando marcava por Portugal, alguns momentos mágicos como em 91 nas meias, na final, ou pelos AA contra a Irlanda ou Inglaterra. Dei por mim a pensar que foi desde esse momento que Rui entrou na minha vida enquanto adepto, e foi ganhando um lugar bem especial.
Depois disso tudo é História conhecida, a carreira que cresceu, por certo não tanto como um génio assim merecia, mas cresceu e raras vezes o ouvimos a lamentar o que quer que seja, jogou no clube do coração sendo campeão e saindo quando o Benfica estava condenado a cair num longo abismo, tornou-se principe em Florença pela Fiorentina e chegou a um dos melhores clubes do Mundo onde foi Maestro, onde ganhou todo o respeito que merecia e as competições que lhe faltavam, viu-se substituído por um novo maestro, outro genial jogador, Kaka, mas até nesse momento a humildade deste homem fez com que sempre com profissionalismo desse tudo pelo Milan, facto que lhe valeu uma relação com colegas e adeptos que não está ao alcance de muitos.
Agora prepara-se para privar o mundo da sua magia, e eu fico triste, revoltado com a lei da vida, porque jogadores assim deviam ser eternos, mas depois penso que de certa forma o são, atingiram a imortalidade pelo que fizeram. O Rui ainda vai fazendo, sem a força de outros tempos, mas com a entrega que lhe permite ainda ser o melhor jogador de uma equipa que é fraquinha, já se sabe, mas isso não é justificação para ele ser o que se destaca, a única explicação está na dádiva que aqueles pés receberam, no toque de magia que Rui tem e partilha com o mundo, apesar de o Benfica caminhar penosamente para o fim de uma época desastrosa, ao contrário de outros anos não anseio o seu final, antes aprecio sempre que ele entrar em campo pois sei que momentos destes vão ficar na minha memória. Rui disse que o final ideal seria um Benfica vs Fiorentina na final da Uefa, ao que parece o sorteio não o permite mesmo que as duas formações vão vencendo, resta-me desejar que se encontrem, mesmo que essa seja a última eliminatória que o Benfica dispute nesta competição, para ele ter as homenagens justas.
Para terminar, relembro uma vez mais o momento em que estive mais perto dele, há 10 anos, torneio Rui Costa na Amadora, eu acabara de perder uma final pelo Damaia Ginásio Clube e ele foi ao balneário, o que falámos pouco interessa, mas a imagem dele ao lado do meu irmão a falar para uma equipa de jovens que pensavam ser vedetas nunca vai sair da minha memória. Grande Rui!

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