Mais MST

"Este não é um livro de História mas sim um Romance Histórico." É assim que Miguel Sousa Tavares começa por escrever a Nota do Autor no final de Rio das Flores. De certa forma discordo, porque um documento que tem tanta História do nosso País, num dos períodos mais complicados da sua centenária existência, deve no meu entender ser entendido e de certa forma como um livro de História, e é assim que eu o encaro, por certo ninguém me levará a mal por assim o ler.

É um extraordinário Romance Histórico, quando falamos de obras do mesmo autor as comparações são inevitáveis e por vezes injustas. Não li Equador e Rio das Flores um a seguir ao outro, e assim a recordação de um tem necessariamente de ser mais fresca que do outro. Creio que Equador é dotado de maior suspense, e talvez prenda mais o leitor, mas Rio das Flores por falar de um pedaço tão importante da História de Portugal mas não só, é para mim melhor em muitos aspectos, e um livro que me marca mais. Rio das Flores fala-nos da queda da Monarquia, das lutas entre fiéis e opositores da República, leva-nos por décadas de ditadura, mas não só em Portugal, aqui é falado entre histórias da guerra civil de Espanha e de como outros ditadores como Franco, Mussolini ou Hitler chegaram ao poder nos seus países, da interacção entre regimes anti-democráticos no combate à ameaça Comunista que chegava da União Soviética, leva-nos ao que antecedeu a 2ª Grande Guerra e passa ao de leve pelas suas principais datas.

E tudo isto nos é trazido enquanto a família Ribeira Flores e suas questões nos é apresentada, enquanto um dos Flores divide o seu tempo entre Portugal e o Brasil, outro dos países cuja ditadura é aqui aflorada.

Arrisco-me a dizer que este livro é um indispensável documento histórico, por certo não se encontra aqui nada que não se possa descobrir em determinados livros de História, mas a forma como a primeira metade so século XX nos é descrita aqui merece ser levada em conta e talvez, porque não, estudada.

Como escritor este homem é mesmo espectacular!